quinta-feira, 27 de maio de 2010

Fábula I: O Galo e a flor.


Em meio ao campo, entre árvores e milho, lá estava ele, perto da sua florzinha preferida. Ela era linda, alta, linda, alta e amarela.
O galo a conheceu quando passeava pela redondeza, e quando a viu ela ainda era bem pequenina... um brotinho. Seus olhos encheram-se de água no mesmo instante, mas não água do mar, nem água salgada, muito menos água de lágrimas. Encheu-se, foi de água do sol. Isso mesmo, o sol dá água ás vezes...
Passaram-se dias muito ensolarados, a flor foi crescendo, e era muito prendada! Até suas sementes tinham valor comercial.O galo, orgulhava-se de dizer que aquela flor, era dele, e só dele. Pois foi ele, que a regou, que cuidou dela em dias tempestuosos, que a protegeu do perigo, e que a ensinou tanta coisa.Ele dizia isso para todos. Vivia dizendo... "Minha flor é como o ar, sem ela não conseguiria respirar" , repetia apaixonado.
Quando as amigas do galo íam visita-lo, visitavam também a flor. Descobriram até que ela não era uma simples flor, ela era especial, era um Girassol! E até os raios solares se encurvavam diante de sua beleza.
Mas ela vivia quieta, calada,distante das demais... Aparentemente parecia feliz! Mas olhando de perto, bem de perto suas pétalas, ela parecia triste, muito triste. Entretanto ninguém falava nada, pois o galo sempre foi muito desastrado, e dessa vez ele parecia estar cuidando direito. Antes,ele tinha tido uma rosa vermelha, mas acabou se machucando com seus espilhos e logo, também machucando a rosa... Sem falar na pimenta-dedo-de-moça... O galo era mesmo muito,muito, desastrado! Então parecia, que ele tinha tomado jeito,afinal nunca reclamaram de nada.
Os dias de sol foram se passando, e o galo não cansava de repetir para todos que por alí passavam:"Ela é como o ar, sem ela não conseguiria respirar". As outras flores do campo, ficavam com uma pontinha de inveja, porque não tinham um galo daqueles com elas. E a flor amarela especial, que também gostava muito do seu galo,achava que tinha algo de errado, pois o galo, nos últimos tempos havia se distanciado dela. Ouviam-se boatos de que ele tinha encontrado um cravo, mas nada se via, e nem se percebia, porque o galo continuava a gritar para todo canto do mundo que a sua flor era "como o ar, sem ela não conseguiria respirar".
Em mais um certo dia de sol, os amigos do galo que por alí passaram queriam conhecer a sua famosa flor. Todos conheciam a fama da sua formosora. O galo, orgulhoso que só ele, começou a contar toda a história... de como amava seu girassol, de como cuidava bem dela, de como ele era tudo o que ela tinha... e todo aquele discurso que galo orgulhoso adoro fazer. Papo estranho mesmo, muito. Porque percebeu-se que o galo não tratava a flor, como uma flor, como ela era realmente...E sim, a tratava como um objeto, um objeto unicamente e exclusivamente seu. Só seu e de mais ninguém. E é isso que a flor andava reparando. Essa era a explicação para as causas que estavam acontecendo.
Dias foram se passando, e aquela obsessão aumentava. Aumentava como sua crista e seus papos chatos. O galo não era mais como antes...
Um certo dia de nem tanto sol, suas galinhas vizinhas foram visitá-lo. A principio não observaram nada de errado. O galo continuava com sua mesma frase de sempre: "Ela é como o ar, sem ela não conseguiria respirar." Porém, depois perceberam que ele não parava mais de repetir isso freneticamente. Elas como suas amigas que eram, tentaram avisá-lo de que aquilo estava muito esquisito, e o alertaram para "certos cuidados".
"Ela é como o ar, sem ela não conseguiria respirar".
O galo não escutava ninguém, e suas amigas foram embora chateadas.
No outro dia de pouquíssimo sol, todos os amigos do galo resolveram cortar conversa com ele, já que o que parecia era que ele não estava batendo muito bem da cabeça.
Dias passaram-se, e o galo foi pra rua, expressar o seu amor pelo girassol. Já que ninguém mais o visitava e ele tinha que falar para alguém o quanto era um bom galo e o quanto cuidava do que era seu. Acho, que na verdade, o galo além de desastrado e orgulhoso, era egoísta. Muito egoísta. Só pensava em si...
Percebendo a evidente loucura do galo, todos do campo foram procurar o girassol. Sem que o galo os visse, é claro. Já que nos últimos tempos, ninguém tinha visto mais a flor. Só escutavam os discursos incansáveis do galo...
Para a surpresa de todos, a flor murchou... Murchou tanto que perto de suas raízes, musgos estavam se formando...
Na terra, perto dos milhos, nenhuma semente existia. A tristeza foi geral, aquela flor não foi como as outras. Ela era especial...muito especial.
Luto por 30 dias, é assim que os normais fazem.
E o galo, ficou sem seu girassol, sem sol e sem ar.

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