quarta-feira, 22 de setembro de 2010

PAULO

Não gosto de mangaba. Nem da Rua Das Mangabeiras.
Drogas, tráfico, brigas, narcóticos, faca, mangabas.
É só o que se encontra lá.

Casas? Pouquíssimas. "Pelo menos o que conhecemos e podemos chamar de casa."

Paulo morava na Rua Das Mangabeiras.
Paulo gostava de mangaba mas não gostava desse nome.
Paulo morava no que chamamos de outra coisa, e apesar de um teto para se abrigar, o sonho dele era ter uma casa.
Sonho esse, que depois se modelou em esperar pela casa que nunca chegava. Esperar é sinônimo de projetos governamentais.
Mas ele era novo, só vinte e um anos... E apesar do ferro ter ancorado toda a sua esperança. Ou melhor, toda a sua felicidade...Ele tinha fé que esse dia ia chegar... O dia em que teria uma casa de verdade.

Paulo era casado, eu acho.
Paulo tinha um filho de dois anos ou dois filhos de um ano? Nem ele sabia ao certo...
Paulo não sabia contar, não sabia falar, não sabia escrever.
Parou na primeira série e me falou que nunca devemos desistir.
E ele? Ah! Ele tinha desistido.
"É a cabeça" - respondeu passando a mão nos poucos cabelos.
"Entendo... afinal, tantos anos fazendo a mesma coisa e mudar de repente... é complicado."

Paulo trabalhava como pedreiro, quando tinha trabalho.
Ele usava drogas e eu sempre pensava que ele tinha parado.
Talvez ele tenha parado e eu nunca soube. Ou talvez não.

E no dia de horizontes próximos, ele apareceu.
Apareceu com seus olhos naturalmente tristes e cansados.
Olhos de quem já viu tudo o que nunca deveria ter visto.
Olhos mais penetrantes que os daquele dia no caixa...
Olhos mais sofridos que os da faxineira da praça...
Não o víamos há anos. Eu nem sabia se ele ainda estava vivo...

Paulo caiu do céu.
Paulo fraturou o fêmur. Vinte e oito pontos, cicatriz por todo lado.
Ele me mostrou as marcas um pouco envergonhado.
Paulo sentia dor todo santo dia. Ou melhor, todo inferno dia.
Paulo tinha tatuagens mal feitas, e que ele parecia arrependido de tê-las feito.

Paulo tinha um gato.
Paulo usava trapos.
Eu gostava dele.
Paulo era diferente.

E quem disser que era pena, saiba que não era! Nem ele tinha pena dele, porquê eu deveria ter?
O irmão só dois anos mais velho, cumpria pena na cadeia. Paulo ainda tinha sorte. Ou um pouco de juízo, ou sei lá o quê.
Ele ainda ta vivendo. Ou melhor, sobrevivendo.

Paulo disse que ía voltar no final do ano.
Paulo era novo, só vinte e um anos...
Paulo me deu dois abraços.
Paulo continua esperando pela sua casa.


- João Paulo II foi o antigo Papa.
- Paulo é o nome do meu cachorro vira-lata!
- Paulo não foi o que traiu Jesus?
- Paulo foi pra mim, um...

2 comentários:

ou Lua disse...

oi? de olá? ou de o que?

a gata fugiu...

ou Lua disse...

o endereço do blog era esse? espelhos não falam? quando eu comentei, não percebi